quinta-feira, 14 de abril de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Memórias descritivas

Devido ao facto de eu ter estado doente durante um período de tempo considerável , o meu trabalho foi dividido com a aluna Inês Pimenta, da turma 1 , sendo que terão sido criadas as três imagens de forma repartida assim como as memórias descritivas. 



Ricardo Reis

Ricardo Reis é o heterónimo mais estoico de todos. A sua filosofia assenta no estoicismo e no epicurismo (procura do prazer). O sentimento de fugacidade da vida e a serenidade com que enfrenta essa realidade confere aos poemas de Reis uma calmia própria do poeta. Revela-se um homem que acredita no Carpe Diem, aproveita o dia, e que só assim é possível alcançar o estado de ataraxia, ou seja a felicidade com tranqualidade, a plenitude da calma.
Para Reis, a verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena, sem “desassossegos grandes”( ironia em parte com a obra “O livro do desassossego”).
Os versos apresentados  Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira rio//Pagã triste e com flores no regaço.”, pertencem ao poema “Vem sentar-te comigo Lídia”, poema este que apresenta um epicurismo triste, uma vez que o poeta busca o prazer relativo, sabendo no entanto que esta felicidade é ilusória e efémera, pois o fado(destino) é curto.
Assim, a escolha dos elementos do projecto vão de encontro ao referido. A escolha das duas mãos juntas representam o amor do poeta pela pagã triste, por Lídia. No entanto este amor não é real e o poeta aceita-o, mais não seja porque sabe que o destino não permitirá que estejam juntos, a morte chegará depressa.
A escolha da nuvem com as pingas de água são representativas da infelicidade, da tristeza sentida por Lídia e o rio, símbolo máximo do fado, não é mais do que uma representação abstracta da morte, do estado de ataraxia levado a cabo pelo poeta.
Como tal, penso que os elementos escolhidos estão em uníssono com o poema, no entanto após a explicação tudo fica mais perceptível por parte do crítico, levando a pensar “ que era óbvia” a relação.
Mais uma vez, as 24 linhas estão repartidas pelos vários elementos da composição tipográfica



Alberto Caeiro
Para a proposta de Alberto Caeiro, baseei-me nas características inerentes ao poeta, para assim recriar o ambiente bucólico.
Caeiro é parco no pensamento, vive pela metafísica e ambiciona uma simbiose na Natureza. Para o “Guardador de Rebanhos”, que apenas vê de de forma objectiva e natural, a realidade é momentânea.
Assim , a proposta que realizei foi de encontro à simplicidade, à “poesia das sensações”.Os elementos da imagem são Pessoa Heterónimo(Caeiro), as montanhas, e um ramo de folhas e flor, bem como a estrofe do poema “Um renque de árvores” do autor.
Como podemos perceber, as características e os elementos seleccionados relacionam-se na medida em que traduzem todos os elementos inerentes a Caeiro. O ambinete bucólico do poema é imagem nas montanhas e no ramo de plantas, ao passo que Pessoa Heterónimo é representado no esboço de Almada Negreiros. Por último, o excerto do poema apenas serve para situar o leitor.
Sendo Caeiro mestre de todos os heterónimos, e o poeta do real e da sensação como “única realidade para nós”, reforço a ideia de que o conjunto dos elementos simples e coesos transmitem ao observador uma sensação de alcançável. Tudo o que está na imagem o leitor conhece, pode tocar, sentir o aroma das flores ou a textura das montanhas.O leitor  conhece também Pessoa, sabe quem foi,poderá  identificar-se com ele. Por tudo isto, achei que o uso da tipografia apenas para realizar os contornos das imagens, seria muito mais agradável do que preencher as mesmas de texto. Procurei  encontrar a tal simplicidade de que Caeiro tanto se orgulhava num equilíbrio entre o preto e o branco. Não utilizei cor, primeiro porque a proposta assim o dizia, e também porque a simplicidade pode ser vista em tons base. Não é necessário o ramo de plantas ser verde ou as flores amarelas, laranja. Ou até as montanhas serem preenchidas com árvores; o leitor sabe e conhece a essência por de trás da simplicidade.
 Devo ainda acrescentar, que a proporção das imagens tem um significado próprio. A imagem é vista de “cima para baixo”, ou seja primeiro repara-se nas montanhas / Pessoa e só depois nas plantas; esta ideia deveu-se ao facto de que também Caeiro não se preocupava com o trabalho formal dos poemas, e assim conferir um estilo próprio. No entanto, sabendo que Caeiro não era senão Pessoa, a preocupação do que parecia ser livre, poderia ser considerado trabalhado, e assim, resolvi colocar “ordem” na imagem. As montanhas ao longe da vista, e os restantes elementos mais próximos do leitor.
Por último, a utilização das 24 linhas de texto, estão distribuídas pela topografia das imagens.


Álvaro de Campos


O objectivo deste trabalho passa pela construção de uma composição tipográfica baseada no heterónimo de Fernando Pessoa – no caso,Álvaro de Campos. Na composição tipográfica é obrigatório inserir o nome do autor/heterónimo e enquadrar o trabalho numa folha A4.
 O processo de trabalho começou na análise das carasterísticas inerentes ao heterónimo e assim averiguar o tipo de letra e cor a utilizar e sentido da composição tipográfica,ou seja os  elementos primordiais ao encetar o trabalho.
O mais sensacionista dos heterónimos, Campos, é também ele um discípulo de Caeiro. Sendo o extremo oposto de Reis, encontra na linguagem torrencial  e no estado exuberante uma forma de se afirmar.
Por isso mesmo, os versos seleccionados “ó rodas , ó engrenagens, rrrrrrr enterno! Forte espasmo retido dos maquinistas em fúria!”, reflectem a exuberância do engenheiro naval. Inseridos na “Ode Triunfal”, os versos exaltam a intensidade e a totalização das sensações.
O facto de Campos procurar no Mundo a inteligência do ser, tornou-o desesperado,tentando apresentar a beleza dos “maquinistas em fúria” e das forças das máquinas “rrrrr”  em oposição à beleza tradicional.
Como tal, para a representação tipográfica, escolhi representar uma roda ancestral. A ideia base do projecto era escolher um elemento simples que reflectisse a essência do poema. O eco às máquinas e ao futuro fez com que a roda tivesse um maior impacto visual.  As 24 linhas de texto foram repartidas entre a construção da roda e a estrada.  Escolhi fazer uma estrada porque me pareceu ser a forma mais fácil de associar que o círculo era na verdade uma roda em movimento. Como já foi referido, Campos pauta-se pelo exagero e exaltidão perante as máquinas e o progresso. E são essas mesmas rodas e engrenagens que fazem as máquinas, os motores, as bases da Revolução Industrial, o Futuro.
Neste caso específico, apenas a letra do texto que compõe a “estrada” é serifada. De facto, o uso de  uma fonte com serifa não iria alterar a facilidade de leitura quer da mensagem na roda ou do nome do autor, e por isso resolvi apenas utilizar a fonte Times New Roman no texto que compõe a  estrada.Por último uma breve referência aos raios das rodas, que conferem (a meu ver) a ideia de movimento anteriormente referida. Fica a cargo do leitor imaginar qual o estado de espírito do poeta quando escreveu a obra ou qual a sensação provocada pela circunferência.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Álvaro de Campos

Alberto Caeiro

Tipografia Ricardo Reis


Ricardo Reis


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
    Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
    E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
    Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
    Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
    Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
    Pagã triste e com flores no regaço.
"O poema pode dividir-se em três partes lógicas:
  • 1ª.: Desejo epicurista de fruir o momento presente (1ª. e 2ª. estrofes):
    Mais do que da emoção de contemplar a natureza (fitemos), a atitude amorosa resulta da interpretação dela como símbolo de fugacidade, interpretação que a razão comanda (aprendamos, pensemos) na constante obsessão do nada que, se por um lado determina no poeta um desejo de fruir o presente e de aproveitar o fugaz momento, único bem que nos é dado possuir, por outro lado reveste o amor de uma gélida frieza, pelo calculado e pensado sentido que retira toda a espontaneidade ao mais simples gesto de ternura;
  • 2ª.: Renúncia ao próprio gozo desse fugaz momento que é a vida (3ª. a 6ª. estrofes):
    É nítido o afrouxar do impulso amoroso, a tal ponto que, do gozo do momento presente, mais não fica que uma contida emoção que aos poucos se anula para terminar numa atitude de quase indiferença e de irremediável incomunicabilidade (sentados ao pé um do outro). E mais uma vez essa recusa é símbolo mais amplo de um desencantado viver que nega qualquer paixão mais forte e todo o esforço que se sabe impotente para alterar a força do destino cruel, numa passividade à margem da vida, quase fora dela;
  • 3ª.: Explicação dessa renúncia como única forma de anular o sofrimento causado pela antevisão da morte (7ª. e 8ª. estrofes):
    Esse ideal de ataraxia que Reis bebeu em Epicuro (e que não contém outro prazer além da ausência de dor) é o remédio ilusório para a obsessão da morte que, no final do poema, ele antevê e disfarça em eufemísticas perífrases clássicas, mas que soa ininterruptamente em Reis como um dobre a finados. E é exactamente para superar a morte, ou superar-lhe pelo menos o cortejo de sofrimento e a saudade que a acompanha, que ele opta por essa vivência atrás definida, que nada deixe que se lamente ou se deseje. E dizemos remédio ilusório porque essa superação nos aparece, apesar de tudo, tingidla de mal disfarçado sofrimento, que sentimos no adjectivo sombrio, hipálage que, mais do que o aspecto do barqueiro, nos sugere o estado de espírito daquele que espera pela morte, o próprio poeta.
rio, que sugere passagem, efemeridade e/ou morte e aparece já na filosofia de Heráclito.
O "barqueiro sombrio", Caronte, que, na mitologia grega, transportava as almas dos mortos que tinham sido incinerados ou enterrados através dos rios infernais (o Estige ou o Aqueronte), mediante um óbolo (pequena moeda grega), que a família do defunto Ihe colocava na boca para pagar a passagem.
Fado e os deuses pagãos.
enlaçar/desenlaçar das mãos.
As flores no colo e o seu perfume para sugerir um bem efémero.
A sombra, para traduzir a morte."
in :http://www.lithis.net/73


Depois de ler o poema o interpretar e ler análises do poema, seleccionei o que para mim, seria essencial estar presente na imagem a criar  : o rio e  as mãos enlaçadas eram essenciais de representar.



Tipografia

A tipografia é a arte e o processo de criação na composição de um texto, física ou digitalmente. Assim como no design gráfico em geral, o objectivo principal da tipografia é dar ordem estrutural e forma à comunicação impressa. Por analogia, tipografia também passou a ser um modo de se referir à gráfica que usa uma prensa de tipos móveis.


A Proposta consistia em :
"A partir dos versos indicados , de Fernando Pessoa, desenvolva três composisações baseadas em tipografia, às quais deverá associar o seguinte texto:
- nome do autor/Heterónimo
-texto sobre o tema, que antes de ser formatado na composição deve ocupar aproximadamente 24 linhas de uma pagina A4 em fonte Times, corpo 12
- as composições devem ser desenvolvidas no formato A4.

O trabalho terá de ser acompanhado por uma memória descritiva, que justifique as escolhas tipográficas que concretizam a proposta.
Como trabalho de pesquisa, indispensavel à concretização do projecto, terá de apresentar uma recolha de exemplos da utilização de tipografia, nos quais, a letra desempenhe um papel manifestantemente estético e simbólico, independente/ associado ao seu valor semântico.

Versos:
Ser-me-ás suave á memória lembrando-te assim-á beira-rio,
Pagã triste  e com flores no regaço.
Ricardo Reis

Tristes das almas, que põem tudo em ordem,
que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamnete reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e  mais verde e florida do que isso!
Alberto Caeiro

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinistas em fúria
Alvaro de Campos

Notas: O projecto deverá ser desenvolvido ao longo doas tres aulas teorico praticas. O trabalho de recolha de exemplos é realizado fora do tempo de aulas. O projecto final, assim como o trabalho de recolha de exemplos e a memoria descritiva deve serentregues ao docente em formato digital, pdf
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