quarta-feira, 13 de abril de 2011

Memórias descritivas

Devido ao facto de eu ter estado doente durante um período de tempo considerável , o meu trabalho foi dividido com a aluna Inês Pimenta, da turma 1 , sendo que terão sido criadas as três imagens de forma repartida assim como as memórias descritivas. 



Ricardo Reis

Ricardo Reis é o heterónimo mais estoico de todos. A sua filosofia assenta no estoicismo e no epicurismo (procura do prazer). O sentimento de fugacidade da vida e a serenidade com que enfrenta essa realidade confere aos poemas de Reis uma calmia própria do poeta. Revela-se um homem que acredita no Carpe Diem, aproveita o dia, e que só assim é possível alcançar o estado de ataraxia, ou seja a felicidade com tranqualidade, a plenitude da calma.
Para Reis, a verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena, sem “desassossegos grandes”( ironia em parte com a obra “O livro do desassossego”).
Os versos apresentados  Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira rio//Pagã triste e com flores no regaço.”, pertencem ao poema “Vem sentar-te comigo Lídia”, poema este que apresenta um epicurismo triste, uma vez que o poeta busca o prazer relativo, sabendo no entanto que esta felicidade é ilusória e efémera, pois o fado(destino) é curto.
Assim, a escolha dos elementos do projecto vão de encontro ao referido. A escolha das duas mãos juntas representam o amor do poeta pela pagã triste, por Lídia. No entanto este amor não é real e o poeta aceita-o, mais não seja porque sabe que o destino não permitirá que estejam juntos, a morte chegará depressa.
A escolha da nuvem com as pingas de água são representativas da infelicidade, da tristeza sentida por Lídia e o rio, símbolo máximo do fado, não é mais do que uma representação abstracta da morte, do estado de ataraxia levado a cabo pelo poeta.
Como tal, penso que os elementos escolhidos estão em uníssono com o poema, no entanto após a explicação tudo fica mais perceptível por parte do crítico, levando a pensar “ que era óbvia” a relação.
Mais uma vez, as 24 linhas estão repartidas pelos vários elementos da composição tipográfica



Alberto Caeiro
Para a proposta de Alberto Caeiro, baseei-me nas características inerentes ao poeta, para assim recriar o ambiente bucólico.
Caeiro é parco no pensamento, vive pela metafísica e ambiciona uma simbiose na Natureza. Para o “Guardador de Rebanhos”, que apenas vê de de forma objectiva e natural, a realidade é momentânea.
Assim , a proposta que realizei foi de encontro à simplicidade, à “poesia das sensações”.Os elementos da imagem são Pessoa Heterónimo(Caeiro), as montanhas, e um ramo de folhas e flor, bem como a estrofe do poema “Um renque de árvores” do autor.
Como podemos perceber, as características e os elementos seleccionados relacionam-se na medida em que traduzem todos os elementos inerentes a Caeiro. O ambinete bucólico do poema é imagem nas montanhas e no ramo de plantas, ao passo que Pessoa Heterónimo é representado no esboço de Almada Negreiros. Por último, o excerto do poema apenas serve para situar o leitor.
Sendo Caeiro mestre de todos os heterónimos, e o poeta do real e da sensação como “única realidade para nós”, reforço a ideia de que o conjunto dos elementos simples e coesos transmitem ao observador uma sensação de alcançável. Tudo o que está na imagem o leitor conhece, pode tocar, sentir o aroma das flores ou a textura das montanhas.O leitor  conhece também Pessoa, sabe quem foi,poderá  identificar-se com ele. Por tudo isto, achei que o uso da tipografia apenas para realizar os contornos das imagens, seria muito mais agradável do que preencher as mesmas de texto. Procurei  encontrar a tal simplicidade de que Caeiro tanto se orgulhava num equilíbrio entre o preto e o branco. Não utilizei cor, primeiro porque a proposta assim o dizia, e também porque a simplicidade pode ser vista em tons base. Não é necessário o ramo de plantas ser verde ou as flores amarelas, laranja. Ou até as montanhas serem preenchidas com árvores; o leitor sabe e conhece a essência por de trás da simplicidade.
 Devo ainda acrescentar, que a proporção das imagens tem um significado próprio. A imagem é vista de “cima para baixo”, ou seja primeiro repara-se nas montanhas / Pessoa e só depois nas plantas; esta ideia deveu-se ao facto de que também Caeiro não se preocupava com o trabalho formal dos poemas, e assim conferir um estilo próprio. No entanto, sabendo que Caeiro não era senão Pessoa, a preocupação do que parecia ser livre, poderia ser considerado trabalhado, e assim, resolvi colocar “ordem” na imagem. As montanhas ao longe da vista, e os restantes elementos mais próximos do leitor.
Por último, a utilização das 24 linhas de texto, estão distribuídas pela topografia das imagens.


Álvaro de Campos


O objectivo deste trabalho passa pela construção de uma composição tipográfica baseada no heterónimo de Fernando Pessoa – no caso,Álvaro de Campos. Na composição tipográfica é obrigatório inserir o nome do autor/heterónimo e enquadrar o trabalho numa folha A4.
 O processo de trabalho começou na análise das carasterísticas inerentes ao heterónimo e assim averiguar o tipo de letra e cor a utilizar e sentido da composição tipográfica,ou seja os  elementos primordiais ao encetar o trabalho.
O mais sensacionista dos heterónimos, Campos, é também ele um discípulo de Caeiro. Sendo o extremo oposto de Reis, encontra na linguagem torrencial  e no estado exuberante uma forma de se afirmar.
Por isso mesmo, os versos seleccionados “ó rodas , ó engrenagens, rrrrrrr enterno! Forte espasmo retido dos maquinistas em fúria!”, reflectem a exuberância do engenheiro naval. Inseridos na “Ode Triunfal”, os versos exaltam a intensidade e a totalização das sensações.
O facto de Campos procurar no Mundo a inteligência do ser, tornou-o desesperado,tentando apresentar a beleza dos “maquinistas em fúria” e das forças das máquinas “rrrrr”  em oposição à beleza tradicional.
Como tal, para a representação tipográfica, escolhi representar uma roda ancestral. A ideia base do projecto era escolher um elemento simples que reflectisse a essência do poema. O eco às máquinas e ao futuro fez com que a roda tivesse um maior impacto visual.  As 24 linhas de texto foram repartidas entre a construção da roda e a estrada.  Escolhi fazer uma estrada porque me pareceu ser a forma mais fácil de associar que o círculo era na verdade uma roda em movimento. Como já foi referido, Campos pauta-se pelo exagero e exaltidão perante as máquinas e o progresso. E são essas mesmas rodas e engrenagens que fazem as máquinas, os motores, as bases da Revolução Industrial, o Futuro.
Neste caso específico, apenas a letra do texto que compõe a “estrada” é serifada. De facto, o uso de  uma fonte com serifa não iria alterar a facilidade de leitura quer da mensagem na roda ou do nome do autor, e por isso resolvi apenas utilizar a fonte Times New Roman no texto que compõe a  estrada.Por último uma breve referência aos raios das rodas, que conferem (a meu ver) a ideia de movimento anteriormente referida. Fica a cargo do leitor imaginar qual o estado de espírito do poeta quando escreveu a obra ou qual a sensação provocada pela circunferência.

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